Adilcio Cadorin **
Em virtude dos descobrimentos que nos legaram as Grandes
Navegações dos séculos XIV e XV, passou a ter capital importância a
atividade dos cartógrafos, normalmente contratados para elaborarem mapas e
plantas, e muitas vezes acompanharem e registrarem as viagens e desembarques em
terras estranhas, ainda não descobertas, além de reproduzirem os contornos
geográficos, a medida que iam sendo descobertas, visitadas e exploradas novas
terras. É evidente que não dispunham dos modernos equipamentos, e que as
anotações, mapas e desenhos eram feitos de forma rudimentar, sem a exatidão das
reais distâncias e geografia. Porém, para os pesquisadores e para nossa
história, tais documentos revestem-se de fundamental importância, pois são
fontes de informações preciosas. Estes homens eram conhecidos como mestres
de cartas de marear.
Ao longo dos séculos muitas cartografias perderam-se, porém algumas foram localizadas e preservadas por instituições e bibliotecas. Dentre estas destaca-se um mapa bastante polêmico, porém muito consultado e referido pela quase maioria dos historiadores. Trata-se do Planisfério Manuscrito de Juan de La Cosa, de 1499, que hoje pode ser encontrado no Museu Naval de Madri, na Espanha. La Cosa havia sido mestre de cartas de marear de Cristóvão Colombo, em uma de suas viagens ao Novo Mundo, em 1492. Em 1499, com esta mesma função, acompanhou a expedição do espanhol Hojeda, desenhando as Antilhas e o litoral da América. (LEITE - Professor Duarte; História da Colonização Portuguesa do Brasil – Litografia Nacional do Porto – Lisboa -1921 – pg. 120).
Para este trabalho, entretanto, o mais importante foi o mapa produzido pelo cartógrafo italiano Alberto Cantino, que além das terras que já eram conhecidas, retratou as novas terras descobertas por Portugal e Espanha. Este documento, que hoje está guardado na Biblioteca Estense, de Modena, na Itália, ficou conhecido como Planisfério de Cantino.
Sua elaboração foi encomendada pelo Duque Hercules d’Este, de
Ferrara, Itália, que era agente italiano do Rei de Portugal D. Manoel, que
mandou mapear os domínios do seu reino. Segundo vertentes históricas,
Cantino teria copiado de uma outra carta náutica de grandes dimensões, que
estava exposta na sala das cartas na extinta Casa da Guiné e da Mina, em
Lisboa, órgão que administrava a exploração e a colonização dos novos
territórios descobertos e explorados pelos portugueses. À cópia que
elaborou, Cantino teria acrescentado e registrado novas terras
descobertas e exploradas, socorrendo-se das informações já existentes e nas informações trazidas por
navegadores, anteriores e imediatamente posteriores a 1500, que já
tinham feito navegações àquelas regiões que constariam em seu mapa. Também
colheu informações dos navegadores Bartolomeu Dias, Hojeda, Pinzon, Diogo
de Lepe, Américo Vespúcio, Pedro Álvares Cabral e de Andre Gonçalves, dentro outros. O mapa detalhou as Antilhas, as três
américas, o Pólo Norte, a África e a Europa, e foi concluído em setembro de
1502. (LEITE - Professor Duarte; História da
Colonização Portuguesa do Brasil – Litografia Nacional do Porto – Lisboa -1921
– pg. 175).
Posteriormente, as informações geográficas disponibilizadas pelo Planisfério de Cantino foram incluídas no Planisferio de Cavério, que, por sua vez, serviu como referência para a elaboração do Planisfério de Waldseemuller de 1507, este financiado pelo Duque da Lorena, onde pela primeira vez, foi denominado de América o novo continente descoberto por Cristovão Colombo.
Examinando detalhadamente o histórico documento de Cantino, constatamos que os pontos assinalados no litoral brasileiro são os seguintes: - Todo Estemos (toda região?) de água doce (refere-se a foz de Rio Amazonas), Cabo de São Jorge, São Miguel, Rio de São Franscisco, Abaia (Bahía) de Todos os Santos, Porto Seguro, A Bera (Vera) Cruz e como último ponto ao sul, assinalou o Cabo de Santa Marta, denominação esta que identifica o local onde hoje está localizado o Farol de Santa Marta, no Município de Laguna.
Considerando que alguns destes navegadores, de quem Cantino buscou subsídios, fizeram suas expedições em anos anteriores, antes de Cabral aqui chegar, pode-se concluir, com boa margem de segurança, que Laguna, através de seu mais importante ponto geográfico, o Cabo de Santa Marta, já era conhecido antes mesmo do Brasil ser oficialmente descoberto por Pedro Alvares Cabral.
Ao longo dos séculos muitas cartografias perderam-se, porém algumas foram localizadas e preservadas por instituições e bibliotecas. Dentre estas destaca-se um mapa bastante polêmico, porém muito consultado e referido pela quase maioria dos historiadores. Trata-se do Planisfério Manuscrito de Juan de La Cosa, de 1499, que hoje pode ser encontrado no Museu Naval de Madri, na Espanha. La Cosa havia sido mestre de cartas de marear de Cristóvão Colombo, em uma de suas viagens ao Novo Mundo, em 1492. Em 1499, com esta mesma função, acompanhou a expedição do espanhol Hojeda, desenhando as Antilhas e o litoral da América. (LEITE - Professor Duarte; História da Colonização Portuguesa do Brasil – Litografia Nacional do Porto – Lisboa -1921 – pg. 120).
Para este trabalho, entretanto, o mais importante foi o mapa produzido pelo cartógrafo italiano Alberto Cantino, que além das terras que já eram conhecidas, retratou as novas terras descobertas por Portugal e Espanha. Este documento, que hoje está guardado na Biblioteca Estense, de Modena, na Itália, ficou conhecido como Planisfério de Cantino.
Interior da Biblioteca de Estense de Modena¹ |
Posteriormente, as informações geográficas disponibilizadas pelo Planisfério de Cantino foram incluídas no Planisferio de Cavério, que, por sua vez, serviu como referência para a elaboração do Planisfério de Waldseemuller de 1507, este financiado pelo Duque da Lorena, onde pela primeira vez, foi denominado de América o novo continente descoberto por Cristovão Colombo.
Examinando detalhadamente o histórico documento de Cantino, constatamos que os pontos assinalados no litoral brasileiro são os seguintes: - Todo Estemos (toda região?) de água doce (refere-se a foz de Rio Amazonas), Cabo de São Jorge, São Miguel, Rio de São Franscisco, Abaia (Bahía) de Todos os Santos, Porto Seguro, A Bera (Vera) Cruz e como último ponto ao sul, assinalou o Cabo de Santa Marta, denominação esta que identifica o local onde hoje está localizado o Farol de Santa Marta, no Município de Laguna.
Considerando que alguns destes navegadores, de quem Cantino buscou subsídios, fizeram suas expedições em anos anteriores, antes de Cabral aqui chegar, pode-se concluir, com boa margem de segurança, que Laguna, através de seu mais importante ponto geográfico, o Cabo de Santa Marta, já era conhecido antes mesmo do Brasil ser oficialmente descoberto por Pedro Alvares Cabral.
É o que se deduz pelo fato de em 1498 o Rei de
Portugal ter ordenado a Bartolomeu Dias uma navegação em direção aonde “é achada uma grande terra firme”, informação esta originada em documento escrito e entregue ao Rei D. Manoel I por Duarte Pacheco Pereira, que em 1494.havia
liderado a delegação de diplomatas portugueses nas negociações com a Espanha
para a elaboração do Tratado de Tordesilhas.
Homem de sua confiança, o Rei já havia encarregado
Duarte Pacheco de uma expedição secreta,
organizada com o objetivo de reconhecer as regiões que lhe pertenciam após a
demarcação do Tratado, partindo do Arquipélago d Cabo Verde em direção oeste, o que se acredita teria ocasionado o descobrimento do Brasil em novembro ou dezembro de 1498, em algum ponto do Maranhã ou do Pará.
Este incontroverso fato leva grande número de historiadores a acreditarem que algumas das informações inseridas por Cantino em seu Planisfério tenham sido fornecidas por Duarte Pacheco Pereira. Como resultado desta navegação secreta, Duarte Pacheco escreveu o Esmeraldo de Situ Orbis, documento montado em cinco partes, com um total de duzentas páginas, ali inserindo as coordenadas as geográficas e latitude e longitude de todos os portos conhecidos no seu tempo.
Assim inicia o relato: "Como no terceiro ano de vosso reinado do ano de Nosso Senhor de mil quatrocentos e noventa e oito, donde vossa Alteza mandou descobrir a parte ocidental, passando além a grandeza do mar Oceano, onde é achada e navegada uma tam grande terra firme, com muitas e grandes ilhas adjacentes a ela e é grandemente povoada. Tanto se dilata sua grandeza e corre com muita longura, que de uma arte nem da outra não foi visto nem sabido o fim e cabo dela. É achado nela muito e fino brasil com outras muitas cousas de que os navios nestes Reinos vem grandemente povoados." (https://pt.wikipedia.org/wiki/EsmeraldodeSituOrbis).
É este documento o primeiro roteiro de navegação português que se tem conhecimento mencionando o litoral brasileiro e a abundância de pau-brasil, redigido antes do descobrimento intencional do Brasil.
Este incontroverso fato leva grande número de historiadores a acreditarem que algumas das informações inseridas por Cantino em seu Planisfério tenham sido fornecidas por Duarte Pacheco Pereira. Como resultado desta navegação secreta, Duarte Pacheco escreveu o Esmeraldo de Situ Orbis, documento montado em cinco partes, com um total de duzentas páginas, ali inserindo as coordenadas as geográficas e latitude e longitude de todos os portos conhecidos no seu tempo.
Duarte Pacheco Pereira² |
Assim inicia o relato: "Como no terceiro ano de vosso reinado do ano de Nosso Senhor de mil quatrocentos e noventa e oito, donde vossa Alteza mandou descobrir a parte ocidental, passando além a grandeza do mar Oceano, onde é achada e navegada uma tam grande terra firme, com muitas e grandes ilhas adjacentes a ela e é grandemente povoada. Tanto se dilata sua grandeza e corre com muita longura, que de uma arte nem da outra não foi visto nem sabido o fim e cabo dela. É achado nela muito e fino brasil com outras muitas cousas de que os navios nestes Reinos vem grandemente povoados." (https://pt.wikipedia.org/wiki/EsmeraldodeSituOrbis).
É este documento o primeiro roteiro de navegação português que se tem conhecimento mencionando o litoral brasileiro e a abundância de pau-brasil, redigido antes do descobrimento intencional do Brasil.
Portanto, é possível deduzir que a referência ao Cabo de Santa Marta no
Planisfério de Cantino, associado ao teor do relatos das expedições secretas do
navegadores precedentes à Cabral, o Cabo
de Santa Marta foi visitado por naus portuguesas antes do descobrimento do
Brasil. Convém lembrar, que o lado norte
do Cabo possui um porto natural, que é
formado por uma pequena baía que é conhecida como Prainha, local onde os
navegadores de antanho devem ter aportado em virtude da excelente condição de
ancoragem que o ponto oferta. Porém, a história registra crédito ao navegador
português André Afonso Gonçalves pela descoberta e a denominação do Cabo de
Santa Marta, o que aconteceu em 1501, no dia que o catolicismo o consagra à
Santa Marta, ou seja, dia 29 de julho. Há uma controvérsia sobre quem teria
sido o capitão da expedição de 1501/1502, que
explorou e tomou posse de diversos acidentes geográficos no litoral
brasileiro.
Alguns historiadores
nacionais afirmam que teria sido Gaspar
de Lemos, enquanto que outros historiadores portugueses afirmam que o comando
era de Gonçalo Coelho. Uma terceira vertente afirma que a armada
era comandada por Andre Gonçalves e outros ainda
afirmam que era comandada por Afonso Gonçalves. A polêmica foi esclarecida após a publicação do historiador
Moacir Soares Pereira, em brilhante trabalho de pesquisa, que foi
abalizada e publicado pela
Revista da Universidade de Coimbra (Capitães, Naus e Caravelas da Armada
de Cabral – 1979). A página 112 e
seguintes, o historiador, após comprovar que foi André Gonçalves que percorreu
e denominou os primeiros acidentes geográficos das 2500 milhas da costa do
atual Rio Grande do Norte até após o Rio
Grande do Sul, informa que não ficou clareado se os navegadores
quinhentistas Andre Gonçalves e Afonso
Gonçalves eram pessoas diferentes, acreditando serem uma única pessoa, podendo ter havido troca ou omissão de nomes nos documentos que registraram para
a posteridade das navegações praticadas
pelos mesmos, já que as datas são coincidentes.
Segundo o historiador, existem probabilidades de se tratar da mesma pessoa, que
poderia ter como nome André Afonso Gonçalves. Andre Gonçalves era um
plebeu, sem histórico de nobreza familiar, e foi o capitão do navio de
mantimentos da expedição de Pedro Alvares Cabral que em 1500 “descobriu” o
Brasil. Era o menor dos treze navios da armada (segundo os historiadores Capistrano
de Abreu, Rio Branco e Candido Mendes de Almeida). Foi o mensageiro oficial, a
mando de Cabral, que de Porto Seguro, retornou a Lisboa levando consigo uma pequena
quantidade de pau-brasil, alguns índios
com suas redes, pequenos animais,
papagaios e outros objetos, além da
Carta de Pero Vaz de Caminha, que narrou e deu ciência do
descobrimento ao Rei de Portugal,
enquanto Cabral prosseguiu sua viagem para as Índias. Cumprindo fielmente as
ordens de Cabral, em sua viagem de retorno, André Gonçalves navegou rumo norte
costeando a costa norte do continente descoberto, mapeando e denominando alguns
acidentes geográficos. Tão logo recebeu a notícia do descobrimento, para exercer
o direito de posse sobre as terras descobertas,
o Rei de Portugal ordenou que nova expedição retornasse para explorar
todo o litoral brasileiro.
A expedição foi
entregue ao comando de Andre Gonçalves. André Gonçalves partiu do rio do Tejo em maio de 1501 com a missão de explorar amplamente o
litoral do Brasil, sendo esta a primeira expedição verdadeiramente exploradora
da costa brasileira que se tem notícias. Junto consigo veio o navegador italiano Américo Vespúcio, que
após Cristovão Colombo ter descoberto a
América, já havia participado de duas
anteriores expedições às terras da América
Central, sob o patrocínio do Rei Espanhol.
A expedição foi composta de três
naus que chegaram à costa brasileira em agosto de 1501, ancorando os navios no hoje estado do Rio Grande do Norte, em local próximo
ao acidente que denominaram de Cabo de São Roque. Dali iniciaram a exploração detalhada do nosso litoral, partindo rumo ao sul,
fazendo sondagens, traçando cartas e roteiros, descobrindo, tomando posse e dando nomes de
santos católicos aos locais onde aportavam e onde
encontravam algum acidente geográfico. Foi assim que surgiram os primeiros nomes para os seguintes acidentes geográficos e locais de
atracagem: Cabo de São Roque, denominado a 16
de agosto; Cabo de Santo Agostinho, a 28
do mesmo mês; Rio de São Francisco, a 4 de outubro; Baia de Todos os Santos, a 1
de novembro; Cabo de São Tomé, a 21 de dezembro;
o Rio de Janeiro, a 1 de janeiro de 1502; Andra dos Reis, a 6 de janeiro de 1502; São Sebastião, a 20 de janeiro de 1502; São Vicente, a 22 de janeiro de 1502 e por fim o Cabo de Santa Marta, a
29 de julho de 1502.
Quando a expedição chegou no Rio da Cananéia, no atual litoral Paulista,
Américo Vespúcio assinalou que, pelo Tratado de Tordesilhas, dali em direção ao sul terminavam os domínios
portugueses no novo território descoberto e se iniciava o território que
pertenceria à Espanha. Querendo
preservar seu relacionamento e negócios que manteve com o Rei da Espanha, do
rio da Cananéia, Américo Vespúcio resolveu não continuar na expedição
exploradora em território espanhol,
motivo pelo qual revolveu retornar para Lisboa.
Entretanto, o capitão Andre Gonçalves prosseguiu explorando o
litoral sul do continente, ocasião que descobriu e denominou o Cabo de Santa Marta. Prosseguindo em direção ao Sul, alcançou as Ilhas Malvinas, de onde retornou.
Parte
destes fatos foram transcritos em um
documento que ficou conhecido como “Ato Notarial de Valentin Fernandes",
redigido pelo próprio, que era um alemão radicado em Lisboa e exercia o cargo de
tabelião, e que foi entregue ao Rei de Portugal em 1503, após o retorno à
Lisboa desta expedição comandada por
Andre Gonçalves. Este Ato Notarial confirma a passagem da expedição que prosseguiu em “direção ao sul, até à altura do polo antártico 53°, mas tendo encontrado
um frio muito grande no mar, voltou para a pátria ...” (http://www.revistas.usp.br/revhistoria/article/view/106736/105363). Mesmo não estando presente, este último trecho da
expedição também foi registrado na primeira Lettera de Américo Vespúcio, onde
se insere que André Gonçalves desceu até
a altura das Ilhas Malvinas, mesmo sabendo que estes territórios, pelo Tratado
de Tordesilhas, estavam fora dos domínio de Portugal. No último ponto que descobriram e tomaram posse
foi a 29 de julho, dando ao acidente geográfico que encontraram o nome de Cabo de Santa Marta, nome presentemente
preservado, onde séculos após foi construído e até os dias de hoje se encontra
em operação o Farol de Santa Marta, a
poucos minutos do Centro da cidade de Laguna/SC.
No
Planisfério de Cantino, todo o litoral
brasileiro foi desenhado sem muitas reentrâncias ou saliências, o que não
aconteceu com o ponto onde está assinalado o Rio Amazonas e o Cabo de
Santa Marta.
Navegando pelo extenso litoral, as naus
periodicamente abasteciam-se de víveres e de água potável, travando contato com
os indígenas e com eles trocando quinquilharias por frutas e caças. Nestes
pontos detinham-se tempo suficiente que lhes permitam conhecer e colocar maiores
detalhes em seus diários de bordo, onde tudo era anotado, inclusive os
acidentes geográficos que posteriormente serviram de subsídios para a
elaboração dos rústicos mapas náuticos e cartas de marear.
Planisfério de Cantino. No lado esquerdo, abaixo, o litoral do Brasil ³ |
No litoral da
América Central, Cantino assinalou pontos como Iha de los Canybales (Ilha
dos Canibais) e Costa de Gente Brava (braba), o que significa que
aportaram nestes locais, pois caso contrário, como poderiam saber que eram
canibais e brabos os indígenas daquelas terras?
Detalhe do Planisfério de Cantino, mostrando o Cabo de Santa Marta |
Deve ser enfatizado que hoje,
geograficamente, o Cabo de Santa Marta não é um acidente geográfico que se
destaca significativamente, se confrontados com outros que existem em nosso
litoral, como, por exemplo, a Ilha de Santa Catarina, que não constou no mapa
de Cantino.
Consequentemente, a importância e destaque que foi dado ao Cabo de Santa Marta, deveu-se a presença em Laguna do navegador André Gonçalves, que aqui aportou em 29 de agosto de 1501.
Em 1523 foi elaborado novo mapa, por um cartógrafo anônimo, que ficou conhecido como Mapa Anônimo de Turin, publicado pela Maps Ilustrating Early Discoveries and Exploration in América, da editora Luth Stevenson, onde constata-se que o local onde está edificada a cidade de Laguna atualmente, foi assinalado o “Rio de Rodrigo... Laguna”. (DIAS – Carlos Malheiros; Historia da Colonização Portuguesa do Brasil; Litografia Nacional do Porto; Lisboa; 1923; pg. 423).
Muitos são os mapas que referem-se ao litoral brasileiro e que foram preservados, até hoje existentes em diversas bibliotecas de cidades como Londres, Roma, Modena, Lisboa, Madrid, Rio de Janeiro e outras. Examinando-os, verifica-se que seus respectivos cartógrafos tentaram reproduzir em suas cartas náuticas os locais visitados pelos navegadores, registrando os contornos e acidentes geográficos encontrados, o que aconteceu diversas vezes nas três primeiras décadas após o descobrimento intencional do Brasil. Se comparados estes mapas entre sí, veremos que existem muitas variações sobre o desenho do litoral e as denominações dadas aos pontos geográficos e locais visitados. Por seus registros históricos, são dignos de serem citados os cartógrafos abaixo, além dos já anteriormente referidos: ao Anônimo pertencente ao acervo privado de E. T. Hamy, de 1504; a Nicolau Cavério e seu Mapa de Cavério, de 1506; ao Anônimo responsável pelo Mapa de Kunstmann, de 1505/1506; a Ruysch e seu mapa O Novo Mundo e a Terra de Santa Cruz, de 1508; a Gaspar Viegas e seu Mapa do Brasil, de 1534; a Vesconti di Maiollo e seu dois Tota Terra de Santa Cruz de Re de Portogale, de 1519 e 1527; ao Anônimo Mapa de Turim, de 1523; a Lázaro Lins com seu mapa de 1553; a Martinus Waldseemüler e sua Carta Marina Navigatoria Portugalenses de 1507; a Vaz Dourado e seu Atlas de Vaz Dourado do Século XVII; (LEITE- Prof. Duarte – A Exploração do Litoral do Brasil na Cartografia da Primeira Década do Século XVI, in a Historia da Colonização Portuguesa do Brasil - Litografia Nacional do Porto – Lisboa – 1923 – pg. 393).
Importante acentuar de que alguns destes mapas assinalam a região da atual Laguna, embora empregando denominações e contornos geográficos um pouco diferentes, o que demonstra claramente que este local foi visitado muitas vêzes, principalmente logo após o descobrimento de Cabral. Examinando estas cartas de marear, planisférios e mapas da alvorada quinhentista, descobrimos que, referindo-se ao mesmo local onde hoje está localizada Laguna, encontram-se as denominações de Cabo de Santa Marta, Ponta de Santa Marta, Imbiassape, Rio de Santo Antonio, Porto dos Patos, Rio dos Patos, Rio de D. Rodrigo e Porto de D. Rodrigo da Laguna. Além dos navegadores que por aqui estiveram durante as grande navegações, conforme já narrado, inúmeros registros e documentos comprovam que Laguna contou com importante presença de expedições exploratórias, normalmente composta por portugueses e espanhóis, servindo de abrigo para degredados, sede de pregações missionárias, entreposto bandeirante vicentista, posto de troca escravagista e abrigo de náufragos. A estes homens, Laguna deve sua origem histórica, que, ficaram perpetuadas em registros e documentos ainda existentes em acervos públicos e privados de diversos países.
Consequentemente, a importância e destaque que foi dado ao Cabo de Santa Marta, deveu-se a presença em Laguna do navegador André Gonçalves, que aqui aportou em 29 de agosto de 1501.
Em 1523 foi elaborado novo mapa, por um cartógrafo anônimo, que ficou conhecido como Mapa Anônimo de Turin, publicado pela Maps Ilustrating Early Discoveries and Exploration in América, da editora Luth Stevenson, onde constata-se que o local onde está edificada a cidade de Laguna atualmente, foi assinalado o “Rio de Rodrigo... Laguna”. (DIAS – Carlos Malheiros; Historia da Colonização Portuguesa do Brasil; Litografia Nacional do Porto; Lisboa; 1923; pg. 423).
Muitos são os mapas que referem-se ao litoral brasileiro e que foram preservados, até hoje existentes em diversas bibliotecas de cidades como Londres, Roma, Modena, Lisboa, Madrid, Rio de Janeiro e outras. Examinando-os, verifica-se que seus respectivos cartógrafos tentaram reproduzir em suas cartas náuticas os locais visitados pelos navegadores, registrando os contornos e acidentes geográficos encontrados, o que aconteceu diversas vezes nas três primeiras décadas após o descobrimento intencional do Brasil. Se comparados estes mapas entre sí, veremos que existem muitas variações sobre o desenho do litoral e as denominações dadas aos pontos geográficos e locais visitados. Por seus registros históricos, são dignos de serem citados os cartógrafos abaixo, além dos já anteriormente referidos: ao Anônimo pertencente ao acervo privado de E. T. Hamy, de 1504; a Nicolau Cavério e seu Mapa de Cavério, de 1506; ao Anônimo responsável pelo Mapa de Kunstmann, de 1505/1506; a Ruysch e seu mapa O Novo Mundo e a Terra de Santa Cruz, de 1508; a Gaspar Viegas e seu Mapa do Brasil, de 1534; a Vesconti di Maiollo e seu dois Tota Terra de Santa Cruz de Re de Portogale, de 1519 e 1527; ao Anônimo Mapa de Turim, de 1523; a Lázaro Lins com seu mapa de 1553; a Martinus Waldseemüler e sua Carta Marina Navigatoria Portugalenses de 1507; a Vaz Dourado e seu Atlas de Vaz Dourado do Século XVII; (LEITE- Prof. Duarte – A Exploração do Litoral do Brasil na Cartografia da Primeira Década do Século XVI, in a Historia da Colonização Portuguesa do Brasil - Litografia Nacional do Porto – Lisboa – 1923 – pg. 393).
Importante acentuar de que alguns destes mapas assinalam a região da atual Laguna, embora empregando denominações e contornos geográficos um pouco diferentes, o que demonstra claramente que este local foi visitado muitas vêzes, principalmente logo após o descobrimento de Cabral. Examinando estas cartas de marear, planisférios e mapas da alvorada quinhentista, descobrimos que, referindo-se ao mesmo local onde hoje está localizada Laguna, encontram-se as denominações de Cabo de Santa Marta, Ponta de Santa Marta, Imbiassape, Rio de Santo Antonio, Porto dos Patos, Rio dos Patos, Rio de D. Rodrigo e Porto de D. Rodrigo da Laguna. Além dos navegadores que por aqui estiveram durante as grande navegações, conforme já narrado, inúmeros registros e documentos comprovam que Laguna contou com importante presença de expedições exploratórias, normalmente composta por portugueses e espanhóis, servindo de abrigo para degredados, sede de pregações missionárias, entreposto bandeirante vicentista, posto de troca escravagista e abrigo de náufragos. A estes homens, Laguna deve sua origem histórica, que, ficaram perpetuadas em registros e documentos ainda existentes em acervos públicos e privados de diversos países.
Logo após a descoberta de Cabral,
navegadores portugueses, espanhóis e franceses conseguiram chegar à foz do Rio
da Prata. Sabe-se das diversas expedições lusas que se dirigiam às Índias e que
ao passarem pelo litoral oeste da Africa, aproveitando-se das corrente
marítimas e ventos favoráveis, cruzavam
o Oceano Atlântico, aportando na parte meridional da América. Dos
espanhóis podemos resgatar diversos registros, após 1500, comprovando sua
presença no Rio da Prata e consequente passagem
pela região do Cabo de Santa Marta. Através de narrativas obtidas dos
então habitantes do litoral onde aportavam para abastecerem seus navios, os
navegadores europeus, ouviram e depois disseminaram na Europa a
informação de que a oeste das novas terras descobertas haviam
montanhas eternamente geladas, onde nascia um imenso rio, que era reinado
de um chefe de uma grande nação, com terras abundantes em prata e muitas
riquezas minerais. Este fato atraiu muitos aventureiros até a costa sul
da América, financiados por expedições oficiais e particulares, estas em maior
número.
Depois de atravessarem o Atlântico diagonalmente em direção sudoeste, aportavam
nos ancoradouros naturais da costa sul do Brasil. Para chegarem até o Rio
da Prata, o Cabo de Santa Marta, (Laguna), era o último porto acessível, onde
poderiam abastecer seus navios com víveres e água potável. Após recuperados da
travessia do Atlântico e abastecidos, seguiam viagem pela extensa e retilínea
costa onde, por ser constantemente varrida por fortes vendavais e perigosos baixos, perderam-se numerosos navios. Com aproximadamente mil quilômetros de
extensão, o trajeto entre a atual Laguna e a Foz do Rio da Prata ficou
conhecido como “Costa Brava”.
Consequentemente,
o Cabo de Santa Marta era porto estratégico, possuindo capital importância como
local de suporte e apoio logístico para as expedições exploradoras, fossem
privadas ou oficiais, daí o porque ter constado no Planisfério de Cantino
de 1502 e nos que foram confeccionados nos anos seguintes.
Em 1513, o português Vasco Nunes de Balboa foi o
navegador que pela primeira vez avistou o estuário do Rio da Prata. Porém a expedição a
qual se atribui o reconhecimento do estuário do Rio da Prata foi comandada por
Juan Dias de Solis, um notório beberão português, sem escrúpulos, que
estava na Espanha, foragido de Portugal. Esteve preso nos dois países. Como era
hábil piloto, foi contratado pela Espanha que o libertou e lhe entregou três
navios, de forma secreta, para dar impressão de que a missão não era oficial e
nem financiada pela Coroa Espanhola. Partiu em outubro de 1515 com três
pequenas caravelas, tripuladas por apenas 60 homens. Sua verdadeira missão, no
entanto, era explorar 1800 léguas de toda a parte sul das novas terras
descobertas, localizadas ao sul, a partir do Rio da Cananéia, no atual
litoral paulista, por onde os espanhóis imaginavam que passasse o
Tratado de Tordesilhas. Através da cédula de nomeação, A Coroa Espanhola lhe
determinou que: “ ... Juan
Dias de Solis, nuestro piloto mayor ... debe ir á descubrir por las
espaldas de Tierra Firme ... descubrirá mill e ochocientas leguas de lo
que pertenesce a este Reino, que está por descubrir... la parte sur ... el
viaje que ha de hacer convien que sea muy secreto por muchas causas ...”
( DIAS –Carlos Malheiro; Historia da Colonização
Portuguêsa do Brasil; Litografia Nacional do Porto – Lisboa; 1923 – pg. 327).
Solis, antes de cruzar o Atlântico,
teve um dos navios afundado, provavelmente, vítima de tempestade.
Inicialmente, aportou na Baia de Guanabara, de onde iniciou sua viagem de
reconhecimento rumo ao Sul das novas terras, ancorando em quase todos os pontos
possíveis de atracar, embora tivesse recebido ordens de não tocar em terras
pertencentes à Portugal. Em 1516, ao passar pela hoje Ilha de Santa
Catarina, outro navio de Juan de Solis naufragou, mais exatamente na hoje
conhecida como Praia dos Naufragados, denominada por Solis como “Baia dos
Perdidos”, em virtude de ali já ter encontrado alguns homens brancos,
desterrados por causa de suas “deliquências” (Trias-Rolando Laguarda
– História naval Brasileira – Vol. I – cap. 5).
Após o naufrágio, os sobreviventes haviam se transferido para o
continente, junto a foz do atual Rio Massiambú. Dos nomes destes
seis náufragos conhece-se o de Melchior Ramires, Aleixo Garcia, Henrique Montes
e Francisco Pacheco, este mulato. Talvez imaginando que não tenha havido
sobreviventes do naufrágio desta sua nau, Solis prosseguiu sua viagem com
apenas um navio. Ao chegar na foz do Rio da Prata, o navegador teve um fim
trágico: “...entraram logo em
uma água ... não salgada chamada de Mar Doce, que pareceu ser o rio que hoje
chamam da Prata. Dali foi Solis com um navio ... reconhecer a entrada por
uma costa do rio ... vendo gente nas ribeiras ... e nesta margem descobriram
muitas casas de índios e gente que ... com sinais ofereciam o que
tinham pondo no chão ... João Dias de Solis quis ver que gente era esta ...
saiu em terra com os que podia caber no batel ...os índios que tinham muito
freicheiros emboscados ... e dando neles ... cercando os mataram ... e tomando
os mortos até onde os navios os podiam ver cortando as cabeças, braços e
pés ... assaram e os comeram ... (DIAS –Carlos Malheiro ; Historia da Colonização Portuguêsa do Brasil;
Litografia Nacional do Porto – Lisboa; 1923 – pg. 380).
Busto de Juan de Solis, próximo a Montevideo, Uruguai 4 |
Importa também relatar que os
navegadores portugueses D. Nuno Manoel, juntamente com João de
Lisboa, estiveram em 1514, no Rio da Prata e também Cristóvão Jaques, em
1516.
Nas primeiras décadas do descobrimento, incontáveis navegadores
aventuraram-se para adentrarem o Rio da Prata, em busca do rico reino que existiria nas
montanhas de prata a oeste deste rio, o que originou o nome do Rio da Prata. Ao
aventurarem-se, antes de chegarem a foz do Rio da Prata, abasteciam suas naus
nos pontos já assinalados nas cartas de marear, sendo Laguna o mais utilizado
por ser o último atracável antes do chegar ao Estuário do Prata. Muitas
vezes foram perdidos navios e tripulantes na extensa “Costa Brava”,
vítimas das intempéries e da pouca profundidade. Houveram inúmeros casos de
marinheiros que, após passarem privações e correrem inúmeros riscos em alto
mar, amedrontados pelo que os reservava o desconhecido território e pela
possibilidade de serem devorados pelos canibais índios da região a que se
destinavam, preferiam desertar, passando a viverem com os amistosos e pacíficos
índios carijós, que povoavam densamente o litoral de Santa Catarina, com
aldeias ao longo de sua costa, onde era possível navios atracarem, como
foi o caso da aldeia de Viaça, ou Embiaça, como a denominaram os
espanhóis, hoje cidade de Laguna, onde habitou o espanhol e náufrago
Melchior Ramires e outros, cujos conhecimentos passaram a ter importante papel
no processo da exploração e ocupação portuguesa e espanhola na região sul da
América.
Cristóvão Jacques foi um navegador português que
partiu de Lisboa em novembro de 1521, com duas caravelas e sessenta homens. Motivado pela informação das riquezas
acessíveis pelo Rio da Prata, ao passar por Laguna Cristóvão Jacques levou o
náufrago Melchior Ramires e os demais em sua companhia, rumando para o
Rio da Prata. O historiador Eduardo Bueno relata que naquela época
Melchior Ramires estava habitando junto a aldeia indígena que onde hoje
está construída a cidade de Laguna. (Náufragos Traficantes e Degredados
- Ed. Objetiva – 1998 - pg. 149). Ao voltar para Portugal,
Cristóvão Jacques relatou ao Rei que guiado por Melchior Ramires, havia
navegado por um “maravilhoso rio de água doce, largo de 14 léguas e muito rico
em prata, ouro e cobre”. A exemplo de Melchior Ramires, dezenas de
europeus, mormente náufragos ou degredados, permaneceram na região
e espalharam-se ao longo da costa sul, dominando e miscigenando-se
com os índios das diversas aldeias localizadas na região litorânea de
Santos/SP a Laguna/SC, comunicando-se entre si por terra e por mar, usando
apenas canoas a remos. Diz Eduardo Bueno, que estes europeus “com os
índios aos remos, navegavam ao longo da costa sul do Brasil, de Laguna até S.
Vicente, em S. Paulo ... Altivos capitães europeus logo iriam depender das
informações dadas por esses homens” (Náufragos Traficantes e Degredados
- Ed. Objetiva – 1998 - pg. 142).
Aleixo Garcia, um destes habitantes europeus
junto ao litoral catarinense, organizou uma expedição com cerca de
quatro mil índios em direção oeste até os Andes, tendo saqueado povoados incas
de onde foram trazidas algumas peças de prata e de ouro. Exibidos
estes objetos a Melchior Ramires, Henriques Montes e aos demais náufragos que
habitavam nas aldeias indígenas, em pouco tempo esta informação foi transmitida aos
navegadores que no litoral de Santa Catarina ancoravam. Meses após, a
informação que confirmou a existência da lenda de abundantes quantidades de
ouro e prata, chegou aos ouvidos de Portugal e Espanha. A partir deste momento, as
atenções de Portugal e da Espanha voltaram-se para o litoral sul do
Brasil, como ponto de partida e apoio para abastecimento das expedições marítimas
e terrestres que deveriam se empreendidas rumo às montanhas de prata.
Acendeu-se o estopim e deflagrou-se a partida de dezenas de expedições oficiais
e particulares, de companhias de navegação, de nobres financiadores e de
todos os tipos de aventureiros imagináveis. Todos com o propósito de
conquistarem o reino da Serra da Prata. Como
referido, para os navegadores que queriam atingir o Rio da Prata, Laguna era o
último porto onde poderiam abastecer de água potável e víveres fornecidos pelos
índios. Existem relatos de navegadores que registraram os tipos de
alimentos que os navios permutavam com os brancos que ali habitavam e
lideravam os índios. Dos europeus, os nativos recebiam pequenos
espelhos, facas, anzóis, machados, tecidos e outros artefatos, enquanto
dos índios, os europeus recebiam alimentos tais como veados, antas,
capivaras e patos já abatidos, que eram salgados e
armazenados em barris, bem como milho, inhame, mel, ostras,
mariscos e outros alimentos. Certos de que a Serra da Prata ficava nos seus domínios estabelecidos
pelo Tratado de Tordesilhas, a Espanha resolveu investir no caminho marítimo
para atingi-la, contornando pelo sul o continente americano, passando pelo
Estreito de Magalhães, recém descoberto, permitindo-lhes adentrar e
navegar pelo Oceano Pacífico, rumo norte pela costa oeste da América do Sul, até atingirem
a Serra da Prata. Este itinerário também tinha o propósito de atingir as
Ilhas Molucas, na mesma costa do Pacífico, onde pretendiam estabelecer seus
domínios através de povoamentos, que serviriam como ponto de apoio para
dali atingirem as Índias, navegando rumo ao ocidente, no sentido inverso de
Portugal. Foi com o propósito de atingir as Ilhas
Molucas, que em 1525, Jofre de Loyasa, com diversos navios, partiu
de Sevilha/Espanha. Os navios, ao chegarem próximo do Estreito de Magalhães,
foram vítimas de violento temporal, sendo que um deles, a nau São
Gabriel, sob comando do capitão Don Rodrigo de Acunhã, ficou
fortemente avariado e desgarrou-se dos demais, vindo parar no litoral
catarinense, onde buscou abrigo, inicialmente ao sul da Ilha de Santa Catarina.
A nau de D. Rodrigo estava avariada no leme, mastros e nas velas, que
necessitavam ser reparadas, tendo ali encontrado os náufragos e desertores
da expedição de Juan dias de Solis, já mencionados. D. Rodrigo teve que
mudar de porto para consertar seu navio porque os náufragos que haviam
encontrado contagiaram sua tripulação com a forma de vida livre que
viviam, com fartura de alimentos e por possuírem muitas esposas, além da perspectiva de descobrirem prata e ouro. Mudou, então, de
ancoradouro, aportando mais ao sul, também por necessidade de abrigar-se
por mais tempo em porto com maior proteção natural, o que fez junto a aldeia de
Embiaça, hoje Laguna, que na época era habitada pelos índios carijós,
dentre os quais vivia Melchior Ramires, náufrago da expedição de
Juan Dias de Solis. Mesmo mudando de porto, trinta e dois homens da
tripulação de D. Rodrigo desertaram e passaram a viver com Melchior Ramires e
os índios da região de Laguna, conforme ele próprio anotou em seu diário de
bordo. Em virtude de sua estada de aproximadamente quatro meses, o local
foi assinalado em seu diário de bordo como Porto de D. Rodrigo, que pode
ter sido o local onde hoje está situado o atual cais no centro da cidade de
Laguna.
A influência destes náufragos e desertores no cotidiano dos índios carijós produziram desdobramentos e modificações
importantes. Em virtude de cada um deles dispor das mulheres que bem entendessem,
com o passar dos anos houve considerável alteração genética, sem falar nos
costumes e na cultura que reciprocamente foram alteradas, ou seja, estes
europeus passaram a sobreviver como índios e os índios aprenderam valores e
costumes dos europeus. Foi o embrião da Laguna de hoje.
Outros navegadores seguiram-se a estes
nominados, que provavelmente também aportaram e socorreram-se do apóio logístico que
Laguna possibilitava, sendo digno de ser referidas algumas destas expedições,
como a de Sebastião Caboto (1526), Diego Garcia (1528), Pedro Mendoza, o fundador de Buenos Aires (1534) e
outros. Importante ressaltar que o navegador Gonzalo
Mendoza, após ter acompanhado Pedro de Mendonça em sua passagem por
Laguna, após ter participado da Fundação de Buenos Aires, voltou à Laguna
novamente poucos tempo após e ali recrutou alimentos suficientes para salvaram
da morte por fome os espanhóis que haviam ficado em Buenos Aires, levando
a força diversos índios carijós e alguns espanhóis que já habitavam em Laguna para auxiliarem no
combate aos índios que assediavam Buenos Aires.
A maioria, por não concordarem,
refugiaram-se na matas, sendo perseguidos, capturados e conduzidos
acorrentados, após terem recebido maus tratos. (CABRAL- Osvaldo Rodrigues
– História de Santa Catarina - Ed. Lunardelli – pg. 27).
Fundação de Buenos Aires, por PedroMendonça 5 |
Portanto,
pode-se concluir que todos estes acontecimentos devidamente registrados de diversas
formas, somente foram possíveis acontecer graças ao fato de que Andre Gonçalves foi o descobridor e quem deu nome ao Cabo de Santa Marta em 29 de julho de 1502, consolidado no mesmo ano pela inserção do Cabo de Santa Marta no Planisfério de Cantino, já que este ponto
geográfico de Laguna era o último que oferecia um porto natural, habitado por
índios e por europeus e que servia como apoio logístico aos navegadores que
percorreram o Caminho das Indias ou, principalmente, os que enfrentaram a difícil navegação pela Costa Brava, antes de atingirem
o Rio da Prata em busca de riquezas.
Cabo de Santa Marta e sua Prainha, um porto natural. | 6 |
A relevância estratégica do ancoradouro natural do Cabo de
Santa Marta para as navegações dos derradeiros anos de Século XV e os primeiros
do Século XVI, associada à existência de montanhas com altiplanos de campos
exuberantes, caudalosos rios e acidentes geográficos a oeste, agregado às
notícias da existência de muito ouro e prata nas terras recém descobertas, somado ainda a imprecisão dos limites do Tratado de Tordesilhas, foram determinantes para que em 1549 o
espanhol Juan de Salazar Spinoza,
tentando consolidar a região como domínio espanhol, denominasse o local como Laguna Del Embiaça. O mesmo aconteceu
com o bandeirante vicentista Domingos de Brito Peixoto em relação à Coroa
Portuguesa que, no segundo quartel do
Século XVII, lhe ordenou explorar e povoar aquela que seria o núcleo logístico
para, em virtude da inércia da Espanha,
implementar a política de
expansão meridional dos domínios da Coroa Lusitana, rompendo os incertos limites
do Tratado de Tordesilhas.
Estes dois fatos, a origem da atual denominação e o povoamento de Laguna, serão objeto de novas postagens neste blog.
*Esta Matéria já havia sido publicada
neste blog, porém recentes conhecimentos sobre datas, fatos e pessoas obrigaram-se
a reeditar a mesma matéria, com algumas alterações necessárias em homenagem a
maior verossimilhança histórica possível.
** O autor Adilcio Cadorin é advogado
militante, reside em Laguna/SC, e membro
efetivo do IHGSC – Instituto Histórico e Geográfico de Santa Catarina.
Um comentário:
Que baita texto e pesquisa. Parabéns!
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