segunda-feira, 10 de junho de 2013

CAVALGADA HISTORICA - DE COLONIA DO SACRAMENTO, NO URUGUAI, ATÉ LAGUNA, EM SANTA CATARINA - 1300 KM - 45 DIAS A CAVALO




Pelos idos de 1700, emigrou para o Brasil, oriundo da localidade de Ponte de Lima, o português Cristovão Pereira de Abreu, um jovem pertencente à pequena nobreza portuguesa.

Após algumas andanças e negócios comerciais no Rio de Janeiro e interior da região aurífera das Minas Gerais, estabeleceu-se como comerciante e exportador na recém fundada Colônia do Sacramento, então entreposto comercial português situado ao norte do Rio da Prata, no lado oposto a Buenos Aires.

Nesta época comercializava e contrabandeava, produtos originários da Europa para os habitantes da vizinha Buenos Aires. Também em associação com amigos e parentes portugueses do Rio de Janeiro, arrebanhava gado alçado da pampa Uruguaia e Rio Grandense, bem como negociava com os padres jesuítas da região missioneira, adquirindo tropas de muares e outros produtos dos índios Guaranis. O gado após abate nas proximidades do Sacramento, era charqueado, coureado e após a retirada do sebo, embarcado em sumacas no porto de Maldonado para as cidades de Laguna e Rio de Janeiro. Assim abasteciam os sertões auríferos das Minas Gerais e até mesmo alimentavam a mão de obra nos engenhos de açúcar no nordeste brasileiro.

No início da década de 20, antevendo as enormes dificuldades da fixação lusitana nas margens do Prata e mesmo o término da ocupação portuguesa na Colônia do Sacramento, fundou na Laguna dos Castilhos, Uruguai, uma moderna estância para criação de gado, cavalos e mulas, bem como para continuar o negócio de abate do gado alçado e o transporte de seus subprodutos para o Brasil central. Para tanto, iniciou uma série de expedições visando conhecer os caminhos do pampa gaúcho e o estabelecimento de rotas e postos de negociação com os padres Jesuítas.

Alguns anos após, lá pelos 1730, iniciou a exploração da rota, posteriormente conhecida como “Caminho das Praias”, ligando a região de Maldonado no Uruguai até a cidade de Laguna no litoral Catarinense. Cristovão arrebanhava gado alçado da pampa, adquiria mulas e outros produtos missioneiros, formava uma comitiva com associados, que em tropeadas levavam milhares de reses, muares, eqüinos e ovinos até Laguna. Iniciavam suas tropedas pelos arredores de Maldonado ou da Laguna dos Castilhos, entravam no território brasileiro pelo Chuí, costeavam a praia entre as lagoas Mirim, Mangueira e o banhado do Taim, atingido a região do canal do Rio Grande. Descansavam alguns dias na beira do canal, atravessavam o gado a nado no canal do Rio Grande, aboiando as tropas com as “pelotas”, pequenos barcos de couro com armações de espinilhos e amaricas. Seguiam pela região de São José do Norte, Mostardas, Viamão, Santo Antonio, rio Mampituba até atingir a cidade de Laguna, sempre, ou na maioria das vezes entre o mar e as dunas de areia do litoral sul. Na vila de Laguna o gado era abatido, retirado o sebo, charqueado, coureado e embarcado para o centro do Brasil.
Pelos fins de da década de 30, visando contornar as dificuldades do transporte marítimo, acelerar e aumentar o fluxo do gado, desbravou o pioneiro “Caminho dos Tropeiros”, estabelecendo e consolidando a rota terrestre que uniu o sul ao centro do Brasil. Subiu a serra do Mar pelo “Caminho dos Conventos”, atingiu o planalto catarinense nas alturas da cidade de Lages, seguido até Curitiba e finalmente chegando a Sorocaba no interior paulista. Nesta empreitada gastou mais de ano e praticamente toda a sua fortuna. Posteriormente como compensação, a coroa portuguesa o agraciou por quinze anos com parcela do imposto arrecadado pelo “pedágio” cobrado das tropas que cruzavam o Passo de Santa Vitória, na divisa de Santa Catarina com o Rio Grande do Sul, sendero obrigatório aos tropeiros que cevavam suas tropas para serem vendidas na pujante Feira de Sorocaba.

Desta forma viabilizou a ligação entre o Sul e o resto do Brasil de então, permitindo o abastecimento do Brasil central com carnes, sebos, couros, muares, eqüinos e demais produtos da região sulina. Milhares de tropas partiam anualmente para a região central, criando ao longo do seu trajeto inúmeras cidades e vilarejos, povoando, desta forma, uma região até então deserta e fora do domínio português.



Depois, pelos idos de 1740, Cristóvão Pereira de Abreu abriu nova rota terrestre, que ficou conhecida como “Caminho de Viamão”, encurtando o trajeto das tropeadas ao subir a serra gaúcha nas alturas da cidade de Santo Antonio da Patrulha. Por esta rota deixou de lado rota que finalizava em Laguna, encurtando e facilitando muito o envio das tropas de gado para Sorocaba. Cristovão e seus associados chegaram a organizar até três expedições ou “tropeadas” anuais por este novo caminho.

Portanto, o “Caminho das Praias”, que possuía uma extensão de aproximadamente 1300 km foi a primeira grande via terrestre por onde o Brasil Meridional e o Uruguai de hoje transportaram as tropas de gado que serviram para alimentaram a força escravagista das capitanias de Pernambuco, S.Vicente e das Minas Gerais.

Foi um período em que a vasta região ao sul de Laguna, até as margens do Rio da Prata, compreendendo parte de Santa Catarina, o Rio Grande do Sul e o Uruguai de hoje eram considerados pelos portugueses como “Terra de Ninguém”, fato que era contestado pelos espanhóis que a pretendiam como sua, o que desencadeou muitas lutas e invasões de ambos lados do Rio da Prata, sendo que a cidade de Colônia do Sacramento, que havia sido fundada pelos portugueses oriundos de S. Vicente e de Laguna, por seis vezes foi tomada de assalto pelos castelhanos de Buenos Aires. Depois, por diversas vezes, devolvida aos portugueses por conseqüência dos diversos tratados de Madri, de Ultrech, de Santo Idelfonso e outros que foram celebrados ao longo de mais de um século, até que em 1828 o Império do Brasil, reconheceu a independência do Uruguai.

Cristovão Pereira de Abreu, também foi um dos fundadores da cidade de Rio Grande, lutou como coronel de milícias nas principais refregas para o estabelecimento do domínio português na região sul e foi um dos comandantes da delegação portuguesa para estabelecer os limites do atual Rio Grande do Sul. Faleceu em 1754 na cidade de Rio Grande.
Historicamente é hoje conhecido como o “Pai do Tropeirismo Brasileiro”

Na atualidade, um grupo de cavaleiros na região de Laguna, em Santa Catarina, juntamente com companheiros de Santa Maria, do Rio Grande do Sul e do Uruguais, amantes dos cavalos e com muita experiência em longas cavalgadas, conhecedores dos feitos tropeiros de antigamente, planejam revenciar e tentarão relembrar estas epopéias, revivendo as dificuldades e os feitos históricos do ilustre cavaleiro Cristovão. Desta forma pretendem efetuar uma cavalgada por este pioneiro Caminho das Praias, partindo da Colônia do Sacramento, hoje cidade de Sacramento, no Uruguai, até atingir a cidade de Laguna no litoral catarinense.

Esta tropeada, prevista para os meses de setembro e outubro de 2014 será a forma que este grupo encontrou para que não se perca a memória de tão bravos pioneiros, homenageando-os e reconhecendo-os como os desbravadores da Terra de Ninguém, responsáveis pelo rompimento do Tratado de Tordesilhas e o alargamento dos domínios lusitanos no sul da América, além de consolidarem e perenizarem este liame de companheirismo e amizade que une os cavaleiros de hoje do Uruguai, do Rio Grande do Sul e de Santa Catarina.


Junho de 2013, por
Ademar Beck Gemelli – Santa Maria – RS
Adilcio Cadorin - Laguna - SC