ADILCIO CADORIN*
Nascido em Urussanga (SC), recebeu o nome de Américo em homenagem e agradecimento que seus pais devotaram ao novo continente que os acolheu. Iniciou desde muito jovem seus primeiros trabalhos com seu pai na ferraria que possuía, aprendendo logo o ofício de ferreiro, atividade esta
que já era exercida por seu avô Giovanni
Batista Cadorin, ainda antes de imigrar para o Brasil, quando residia
nas montanhas alpinas de Igne, distrito
de Longarone, cidade do Veneto Italiano.
Na ferraria de Urussanga,
movida com a força da água canalizada do rio,
fabricou ferramentas como foices,
facões, martelos e outros,
principalmente picaretas, enxadas e pás, que eram destinadas ao uso nas
minas de carvão da região de Urussanga e Criciúma. Concomitantemente,
trabalhava com fabrico de vinho, na cantina que seu pai já havia iniciado anos antes de Américo nascer,
apreendendo o ofício de vinicultor.
Sua escolaridade ficou limitada à segunda série de uma escola italiana, única que na época existia em Urussanga, o que, porém, não cerceou sua ânsia de conhecimento. Depois de adulto, não dispensava a leitura sobre vinicultura, história, política e principalmente de dois jornais que recebia pelo Correio e os lia diariamente: "O Estado", editado em Florianópolis (SC) e o "Correio do Povo", de Porto Alegre (RS).
Sendo jovem, de espírito empreendedor e
inconformado com as poucas
possibilidades de evolução que a pequena Urussanga lhe oferecia, após completar 17
anos, junto com outros três jovens da mesma idade, rumou
para o Rio Grande do Sul. Viajaram a pé e no caminho trabalhou como cortador de
pedras durante o período de
construção da estrada da Serra da
Rocinha, ligando Turvo (SC) à Bom Jesus (RS). Havia sido contratado pelo empreiteiro da obra, engenheiro
Napoleão Ferraro, que alguns meses após
o transformou em seu mestre nesta obra e nas seguintes que contratou cm algumas
cidades do Rio Grande do Sul, obras estas destinadas a captar e armazenar água
para abastecer as residências com redes
de distribuição doméstica.
Em Caxias trabalhou como mestre da empresa deste engenheiro no saneamento hídrico, e com ele aprendeu represar, tratar e distribuir água, implantando usinas para produção de eletricidade com os excessos das águas represadas. Naquela
oportunidade, em vista da sua inteligência e vontade não só de trabalhar mas
também de aprender, foi-lhe oferecido cursar engenharia
civil. No entanto por ser homem que sempre valorizou a liberdade e
independência, não aceitou tal oferta porque, em virtude da sua lealdade e
honestidade, se sentiria obrigado a
permanecer ligado a empresa do engenheiro. sistema de tratamento e distribuição de águas encanadas de Caxias do Sul. Mas especificamente, foi o mestre de obras da construção das barragens do complexo S. Pedro, S. Miguel e S. Paulo e
da primeira rede de abastecimento de água tratada em Caxias do Sul.
Residia na então Pensão Peccini, que anos depois ficaria conhecida nacionalmente pelo seu inédito cardápio que servia polenta acompanhada de “galeto al primo canto”.
Residia na então Pensão Peccini, que anos depois ficaria conhecida nacionalmente pelo seu inédito cardápio que servia polenta acompanhada de “galeto al primo canto”.
Concluída e entregue o
sistema, a empresa foi contratada pela
cidade de Santana do Livramento (RS), onde também construiu o sistema de
captação, saneamento e distribuição de
água.
Após um ano e meio, de lá
mudou-se para Irai (RS), contratado que havia sido para construir nesta cidade idêntico sistema hidráulico, captando
as águas do Rio do Mel, bombeadas para a
estação de tratamento e depois distribuídas às residências por uma
rede de encanamentos.
A esquerda, montando moto/bomba para puxar água do Rio do Mel, em Irai. |
Em Irai, hospedou-se na Pensão Itália, e auxiliou na construção do novo prédio, quando foi transformado no Hotel Irai, que hospedava visitantes que buscavam tratamento com as águas termais e lamas sulfurosas que afloravam em suas fontes. Getúlio Vargas foi algumas vezes hóspede deste hotel de propriedade de seu sogro Ambrósio Dazzi.
Nesta pensão conheceu a jovem Adelina Dazzi, com quem casou-se e constituiu família tendo os seguintes filhos: Adérico nascido em 11/10/1933; Arcério em 02/06/1937 e Aldira em 20/05/1941.
Durante os anos que residiu em Irai, trabalhou nos ofícios que conhecia, também dedicando-se a produção leiteira, introduzindo na região o gado holandês.
Depois voltou-se para a extração de madeira das matas da região, cujos troncos, após abatidas as árvores, eram tracionados por juntas de bois até as barrancas do Rio Uruguai, onde compunham uma espécie de balsa, amarrando os troncos entre si com cipos, que ficavam aguardando as cheias do Rio. Quando o volume das águas aumentavam, montavam uma pequena barraca sobre a balsa formada por centenas de troncos e a soltavam para que a correnteza fizesse a balsa navegar Rio abaixo, até seu destino final, ou seja as serrarias vizinhas à Buenos Aires, na Argentina, onde eram vendidos os troncos. Neste ofício de balseiro do Rio Uruguai, levava cerca de trinta dias navegando, neste período permanecendo acampado sobre as balsas, guiando-as para que não encalhassem nas margens.
Somente após o nascimento destes três filhos é que voltou à Urussanga, em visita a seus pais, tendo retornado em definitivo em 1943 com sua mãe já muito adoentada, que veio a falecer quatro meses após sua chegada com a família em Urussanga.
Seu sogro Ambrozio Dazzi, de chapéu e lenço branco |
Nesta pensão conheceu a jovem Adelina Dazzi, com quem casou-se e constituiu família tendo os seguintes filhos: Adérico nascido em 11/10/1933; Arcério em 02/06/1937 e Aldira em 20/05/1941.
Casamento de Américo e Adelina |
Durante os anos que residiu em Irai, trabalhou nos ofícios que conhecia, também dedicando-se a produção leiteira, introduzindo na região o gado holandês.
A Granja Esperança suas matrizes leiteiras |
Depois voltou-se para a extração de madeira das matas da região, cujos troncos, após abatidas as árvores, eram tracionados por juntas de bois até as barrancas do Rio Uruguai, onde compunham uma espécie de balsa, amarrando os troncos entre si com cipos, que ficavam aguardando as cheias do Rio. Quando o volume das águas aumentavam, montavam uma pequena barraca sobre a balsa formada por centenas de troncos e a soltavam para que a correnteza fizesse a balsa navegar Rio abaixo, até seu destino final, ou seja as serrarias vizinhas à Buenos Aires, na Argentina, onde eram vendidos os troncos. Neste ofício de balseiro do Rio Uruguai, levava cerca de trinta dias navegando, neste período permanecendo acampado sobre as balsas, guiando-as para que não encalhassem nas margens.
Transportando madeira para Argentina, pelo Rio Uruguai. |
Seus dois primeiros filhos: Adérico e Arcério |
Somente após o nascimento destes três filhos é que voltou à Urussanga, em visita a seus pais, tendo retornado em definitivo em 1943 com sua mãe já muito adoentada, que veio a falecer quatro meses após sua chegada com a família em Urussanga.
Com as economias que tinha guardado
comprou metade da cantina de vinho de seu pai e com este ficou residindo até
construir ele mesmo sua casa própria onde,
nos idos de 1946, a equipou
com água encanada e aquecida através do sistema de serpentina (via fogão a
lenha). Nesta casa eu, Adilcio, nasci, em 03/06/1948, seu quarto filho.
Através de sua nova atividade como produtor de
vinhos, foi adquirindo terras para plantio de vinhas e outras áreas para
empreendimentos imobiliários nas cidades de Urussanga, Araranguá(SC) e Foz do
Iguaçu (PR), formando assim um
patrimônio imobiliário.
Admirador dos ideais trabalhistas de Getúlio Vargas e ainda, sendo um homem de
grandes qualidades humanitárias, construiu um loteamento popular para os menos
favorecidos financeiramente, para que tivessem a oportunidade de construírem
suas casas e formarem suas famílias. O
pagamento dos lotes era feito de acordo
com as condições de seus adquirentes,
o que resultou que a grande maioria, mesmo sem ter pago seu terreno,
jamais foram molestados com qualquer tipo
de cobrança ou pressão, continuando como proprietários no local que hoje é o conhecido bairro da Baixada.
Quando assumiu a gerência da produção de vinhos em
virtude da avançada idade de seu pai,
introduziu o pagamento de gratificação natalina aos seus empregados,
anos antes de ser criada a legislação trabalhista que instituiu o décimo terceiro salário. Foi
presidente do PTB (na época um partido político muito pequeno em SC), por mais de 15 anos consecutivos .
Também foi delegado de policia. Neste período,
quando ocorriam crimes leves (bebedeiras e
arruaças) e após serenados os ânimos, impunha aos autores, não a
cadeia, mas a hoje chamada pena social,
com multa que era aplicada em forma de trabalho comunitário, o que lhe valeu
conhecimento, respeito e agradecimentos dos infratores e seus familiares.
Estimulado por seu amigo pessoal, Padre
Agenor Neves Marques, foi um dos
responsáveis pela criação do Paraíso da Criança, instituição criada pelo Padre
para abrigar crianças carentes e órfãos, em atividade até os dias atuais. A mesma parceria resultou também na criação
da primeira e única estação de rádio de Urussanga, que foi batizada como Rádio
Difusora de Urussanga, hoje Rádio Marconi.
Em 1954, dado já a notoriedade e re
speito
que lhe eram tributados, motivado pelo Padre Agenor e pelo então
deputado Doutel de Andrade, aceitou a
candidatura a prefeito pela coligação
dos partidos PTB e PSD. Concorreu contra
Dr. Aldo Caruso Mac Donald , único médico da região que era apoiado pelo poder
econômico e os partidos UDN e PRP.
Logrando-se vencedor, foi
empossado prefeito Municipal de
Urussanga, tendo exercido a função por cinco anos, de 1955 até 1960. Dentre suas inúmeras realizações como prefeito,
destacaram-se: a construção de barragem, tratamento e encanamento
da água para todas as residências de Urussanga; .o calçamento e iluminação publica das principais
ruas da cidade; a substituição das pontes de madeiras por pontes de
concreto sobre todos os dois rios que
cruzam a cidade e o apoio e
estimulo à emancipação política de distritos de Urussanga, o criando os novos municípios de Morro da Fumaça, Siderópolis e Treviso.
Eu, de calça curta e "borboleta", acompanhando meu pai para posse na Prefeitura |
Tomando posse sob o olhar do Padre Agenor |
Não recebia vencimentos como prefeito, pois naquela época os municípios não possuíam receita própria e financeiramente eram totalmente dependentes do Governo do Estado. Como o Governador (Irineu Bornhausen) era de partido adversário (UDN), não haviam repasses de verbas regularmente para pagamento dos vencimento dos funcionários e das obras que estavam sendo feitas, o que o obrigou a executa-las com recursos próprios, como por exemplo, a iluminação pública das ruas e da Praça Anita Garibaldi, calçamento de algumas ruas, barragem e rede hidráulica, dentre outras.
Missa de Ação de Graças pela vitória e posse |
Vistoriando o primeiro calçamento das ruas de Urussanga |
Com a instalação da Companhia de Cigarros Souza Cruz em Tubarão (SC), os agricultores foram desestimulados a cultivarem as vinhas, passando a plantarem fumo. Como consequência, os fabricantes de vinho de Urussanga ficaram sem matéria prima, obrigando-se a importar do Rio Grande do Sul (Caxias e Região). Mais tarde, o Governo do Estado do RS proibiu a exportação de uva in natura para fins industriais, o que o obrigou a mudar-se para a região de Caxias do Sul, no princípio de 1962.
Em julho transferiu a residência para São Marcos (RS),
onde em sociedade com a família Tomielo,
construiu uma cantina de pedra, às margens da BR 116, passando a fazer
vinho, que inicialmente era vendido a granel, em barris e caminhões pipas, remetidos para o Rio
de Janeiro e S. Paulo. Mais tarde criou
a marca de vinhos “Lourenço”, em
homenagem a seu pai, que passou a ser
comercializado em garrafões de cinco litros. Em virtude de desentendimento com
familiares de seu sócio, decepcionado e bastante abalado, em dezembro de 1964
vendeu sua participação ao seu sócio e mudou-se para Caxias do Sul .
Novamente residindo em Caxias, inicialmente,
passou a trabalhar como ferreiro, construindo
móveis de ferro que eram vendidos em Porto Alegre. Depois
dedicou-se a construção civil, especializando-se em edificar residências. Ainda em
Caxias do Sul, vítima de um tumor cerebral, faleceu aos 62 anos, em 12/05/1970,
onde está sepultado.
Após seu falecimento, a Câmara de vereadores de Urussanga
homenageou-lhe dando seu nome a rua onde
havia residido e trabalhado na ferraria e
cantina de vinho, cuja rua passou a chamar-se Américo Cadorin. Também em Caxias do Sul a
Câmara de Vereadores homenageou sua memória denominando com seu nome uma das
ruas do Bairro Universitário.
Recentemente, a Prefeitura Municipal de Siderópolis prestou-lhe uma homenagem póstuma, em virtude dos serviços que, como Prefeito de Urussanga, prestou à causa da emancipação daquele Município.
Nascimento: 14/05/1908 em Urussanga (SC).
Filiação : Lorenzo Cadorin e Carolina Maffioletti (italiana)
Esposa: Adelina Dazzi Cadorin
Filhos:
Adérico (advogado), Arcério (funcionário público), Aldira (advogada) e
Adilcio (advogado)
* Filho do biografado,
advogado e membro do IHGSC – Instituto Histórico e Geográfico de Santa Catarina
4 comentários:
Parabéns, Cadorin. Pela biografia nota-se que seu pai foi um grande homem, batalhador, trabalhador e um pai exemplar. Um belo exemplo para voce, seus filhos e netos.
Linda história, moro nesta rua desde que nasci em Caxias do sul e não sabia a história de seu protagonista. Parabéns pela iniciativa.
Muito interessante a história de seu pai....- corajoso, trabalhador, inteligente,solidário e aventureiro - e de seu avô, primo de meu pai. Sempre com interesse no futuro. Fiquei até impressionado. É muito bom conhecer nossas origens.
Um abraço
Somente pode olhar, planejar e valorizar o seu futuro aquele que conhece, respeita e valoriza o seu passado e as suas origens.
Sou eternamente grato por fazer parte deste TRONCO com raizes profundas e firmes ao chão.
Que eu consiga levar adiante, não somente estas histórias, mas ser um exemplo como cada um o foi.
Caio Cadorin
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