Selva Di Cadore, durante o outono, tendo ao fundo o Monte Sella e Val Gardena. |
Inverno em Selva di Cadore |
Em viagem de
pesquisa sobre nossa ancestralidade genealógica à Selva di
Cadore, tivemos acesso ao livro “Selva de Cadore: Note di Onomástica”,
editado em 1990 pelo genealogista Vitto Palabazzer, que à página 225
relata a existência do nome de Andrea Kadorin em registros preservados
datados de 1534, além de outros Cadorin, com os quais, lamentavelmente, não
logramos obter uma ligação genealógica com Lorenzo Cadorin,
comprovadamente o mais antigo de nossos ancestrais. Porém, obtivemos muitos relatos e
informações através de nossos distantes parentes, também descendentes de Lorenzo, que
ainda habitam em Selva di Cadore, mas que não levam mais o mesmo sobrenome
em virtude de que o último Cadorin que viveu em Selva não se casou e
morreu solteiro em 1997. Suas irmãs casaram-se e tiveram filhos que
herdaram o sobrenome dos maridos.
LORENZO
CADORIN, como foi o mais antigo ancestral que localizamos registros documentais fidedignos com o qual temos um liame sanguíneo, estamos considerando-o como participante da Primeira Geração da Família Cadorin.
Dele descobrimos apenas que havia nascido em 1762 e foi casado com Lucia Rova.
Foi batizado na Igreja de São Lorenzo, de onde provavelmente lhe tiraram o
nome.
De seus prováveis descendentes obtivemos notícia de apenas um
filho, Giobatta Cadorin.
O autor e filho Lucas ao lado do campanário da Igreja de São Lorenzo, de Selva di Cadore. |
GIOBATTA
CADORIN - Segunda Geração, nasceu
16/02/1785 e faleceu em maio de 1841. Vivia em união com Natallina Martini. Seu
nome correto deveria ser Giovanni Battista Cadorin, mas que foi abreviado
quando do registro do batismo de seu filho para Giobatta, ou seja “Gio” de
Giovanni e “batta” de Batistta. Não obtivemos provas se eram ou não
casados. Assim como seu pai, foi agricultor e pastor de poucos animais
que criavam basicamente para sustento de suas famílias, encerrando-os na parte
inferior de sua casa, como era costume, onde ficavam confinados durante os
longos invernos característicos dos Alpes. Estas casas, construídas com a parte
inferior de pedra e a superior de madeira dos pinheiros alpinos, eram
denominadas de fienile porque
alí também estocavam os fenos e as pastagens cultivadas e colhidas nos
meses de verão e primavera, para alimentarem os animais confinados durante o
inverno. A parte superior do fienili era destinada a residência da
família.
Tivemos a oportunidade de visitar e constatar que a casa onde se
originou nossa família está preservada, embora ao longo destes mais
de dois séculos já tenha sofrido diversas reformas, sendo atualmente
ocupada por um dos descendentes que não leva o mesmo sobrenome.
Antigo fienile de Selva di Cadore |
O autor e filho Lucas. Ao fundo a casa originária da Família Cadorin em Selva di Cadore - Foto de 1987 |
Também não se tem notícia de quantos filhos o casal Giobatta e Natalia
tiveram, sabendo-se tão somente que nasceu-lhes o filho Lorenzo, que foi
batizado na Igreja de S. Lorenzo, em Selva di Cadore, que pertencia a Diocese
de Beluno-Feltre. A dedução lógica é que seu nome foi escolhido como forma de
homenagear o pai de seu pai, conforme era tradição para muitas famílias.
LORENZO
CADORIN - Terceira Geração, nasceu em 06/06/1816 e casou-se em 24/06/1841 com Giovanna Bez,
nascida em 27/09/1820 em Longarone, também Província de Belluno, onde casaram
e passaram a residir. Tiveram quatro filhos: Giovanni Battista nascido em
29/09/1841; Ana Maria nascida em 10/06/1843; Teresa nascida
04/09/1845 e Lucia nascida em 20/06/1851, todos nascidos em Longarone. Novamente,
mantiveram a tradição de darem ao filho mais velho o nome do avô, motivo pelo
qual foi batizaram seu primogênito com o nome de Giovanni Battista,
mas provavelmente também em homenagem à sua mãe Giovanna Bez, pois até o
duplo “n” foi mantido no nome, conforme constou em seu certificado de batismo.
GIOVANNI
BATTISTA CADORIN - Quarta Geração, casou-se com Maria Sacchet em 1869. Ela nasceu em 1849 em
Castelavazzo, onde residiram por dois anos. Após mudaram-se para Igne, distrito
de Longarone, onde residiu na mesma casa de seu sogro, trabalhando como o mesmo
por diversos anos como ferreiro.
Em 1877, dado as precárias condições que
a Itália vivia em virtude da longa guerra pela sua unificação, o casal e seus
filhos, Giovanni Batista Cadorin Filho (nascido em 25/10/1871), Giovana Cadorin
(nascida em 05/09/1873), Madalena Cadorin (nascida em 30/12/1874) e
Lorenzo Cadorin (nascido em 12/10/1876), imigraram para a cidade de Constantina,
localizada no norte da Argélia, na África, onde tiveram mais a filha
Tereza Cadorin (nascida em 19/05/1878). Em Constantina adquiriu uma propriedade que foi atacada por nativos que o feriram com uma flecha em uma das
pernas, ferimento este que o deixou claudicante pelo resto de sua
vida. Algum tempo após faleceu seu filho Lorenzo. Estes fatos motivaram imigrarem novamente, desta vez para o Brasil, onde chegaram em
dezembro de 1882. Desembarcaram no Rio de Janeiro, pegando outro navio
menor que os trouxe à Laguna/SC e dali seguiram com barco menor navegando
pelo rio Tubarão até o Poço Grande do Rio Tubarão, hoje cidade de Tubarão, de onde rumaram para
Urussanga por precário caminho em meio a floresta, conduzindo seus pertences em carroças e mulas fretadas. Passaram pela Colonia Azambuja, hoje cidade de Azambuja e finalmente chegaram à Urussanga em dezembro de
1882.
Depois de adquirirem um lote rural, fixaram residência e
construíram uma ferraria movida com água de um córrego em Rio
Salto, a poucos quilômetros do Centro de Urussanga. Após dois meses de sua
chegada, sua esposa teve outro filho, que batizaram com o nome de
Lorenzo Cadorin, em homenagem ao ancestral e ao filho que havia falecido na África. Além de Lorenzo, em Urussanga nasceram mais dois filhos:
Riccieri (nascido em 07/10/1885) e Domenica (nascida em 15/02/1888).
Em 07/08/1909, aos 68 anos de idade, Giovanni Battista Cadorin faleceu
em Urussanga.
Giovanni Battista Cadorin |
Maria Sacchet Cadorin |
Seu
filho mais velho, GIOVANNI BATTISTA CADORIN FILHO - Quinta Geração, casou-se em Urussanga
com Degnamerita Mazzorana em 18/08/1894. Mudou-se para o interior da
cidade de Turvo/SC, onde nasceram seus filhos. Tendo enviuvado,
casou-se novamente com Lucia Polli. Nos dois casamentos teve
dezessete filhos. Faleceu em 1923. Foram seus filhos: Constantino, Madalena,
Mabile, Maria, Veronica, Daniel, Lucia, Sexto, Setimo, Degnamerita, Domingos,
Primo, Segundo, Ana, Rodolfo, Egiglio e Cecília.
Já o
filho RICCIERI CADORIN - Quinta Geração, casou-se com Rosina Crema em Urussanga em 1906. O
casal teve quatro filhas mulheres, nascidas em Urussanga: Idalina
que casou-se com Pedro Elias; Jandira que não se casou;
Maria que casou-se com Pedro Echamendi e Doménica, casada com
Giovanni Tezza. Riccieri, deixou sua esposa e filhas e partiu de
Urussanga para local desconhecido no Rio Grande do Sul, onde, segundo
informações não confirmadas, teria sido assassinado.
O
filho LORENZO CADORIN- Quinta Geração, foi o único dos filhos homens do imigrante
Giovanni Batista Cadorin que nasceu, casou-se, residiu e faleceu em Urussanga.
nasceu em Rio Salto, interior de Urussanga, em 11/02/1883, dois meses após a chegada da família ao Brasil. Casou-se em 23/06/1906 com Carolina Maffioletti, filha de Pedro e Rosa Maffioletti, naturais de Bérgamo, Itália.
Junto a
ferraria que instalou nesta rua, também construiu uma
cantina de vinhos, ainda existente, onde passou a produzir os “VINHOS LORENZO”,
mais tarde sucedido por “VINHOS CADORIN”, que inicialmente eram embalados em
barris de cem litros e remetidos de trem para as principais cidades do
Brasil. Posteriormente passou a comercializar seus vinhos em garrafões e em garrafas. Além de vinhos, também produzia vermutes, licores,
biter e vinagres. Sua ferraria produzia ferramentas em geral, principalmente
pás, picaretas e enxadas que eram utilizadas pelas mineradoras na extração do
carvão mineral das diversas minas da região de Urussanga e Criciúma.
Com
19 anos de idade ficou cego, mas curou-se depois de um tratamento feito
por um médico na cidade de Lages, onde foi a cavalo. Além de ferreiro e vinicultor,
exerceu diversas atividades junto a Comunidade, sendo, inclusive, Delegado de
Polícia. Lorenzo faleceu em 07/06/1968, às 17:50 hs. vítima de neoplasia
maligna no intestino grosso, que o havia submetido a uma colostomia
poucos anos antes.
De seu primeiro casamento nasceram oito filhos:
Elena, nascida em 23/08/1907; Américo, nascido em 14/05/1908; Rosa,
nascida em 16/12/1909; Maria, nascida em 12/10/1911; Madalena, nascida em
11/06/1914; Albina, nascida em 22/12/1915; Iolanda, nascida em 09/04/1924
e Orlando nascido em 01/02/1916.
Carolina Maffioletti e Lorenzo Cadorin |
nasceu em Rio Salto, interior de Urussanga, em 11/02/1883, dois meses após a chegada da família ao Brasil. Casou-se em 23/06/1906 com Carolina Maffioletti, filha de Pedro e Rosa Maffioletti, naturais de Bérgamo, Itália.
Carolina nasceu em 12/07/1888 em Bérgamo, Itália, e
faleceu em 20/09/1943 em Urussanga/SC. Lorenzo casou-se novamente com
Eliza Bez Fontana em 08/02/1947, mas deste segundo casamento não teve filhos. Iniciou sua vida como ferreiro em Rio Salto, mas juntamente com
seu pai mudou-se para o Centro de Urussanga onde em frente a atual Praça Anita
Garibaldi construiu uma ferraria movida pela água do Rio
Urussanga. Posteriormente, em 1918, mudou-se para a rua que atualmente
leva o nome de Américo Cadorin, ao lado da Igreja Matriz de Urussanga.
Carros de bois trazem uva em bigunços para vinificação. Foto da Vinícola Cadorin - 1955 |
Alguns rótulos dos diversos produtos da Vinícola Cadorin |
Foto recente da Vinícola Cadorin |
ELENA - Sexta Geração, casou-se com João Damiani, tendo três
filhos: Moacir Damiani que nasceu em 28/11/1929 e casou-se com Maria Saccon
Damiani em 16/05/1954; Maria de Lourdes Damiani, nascida em 18/08/1939 e Maria
Damiani Alves Batista, nascida em 02/08/1936 que casou-se com Dario Alves
Batista em 25/11/1961;
ROSA - Sexta Geração, casou-se com Alberto Nazari em Orleãs,
onde foi residir, tendo como filhos Nordia Nazari Verani Cascaes, que casou-se
com Ulysses Verani Cascaes e Nadir Nazari Pinto, casada com Edgar Pinto.
MARIA - Sexta Geração, casou-se
com João Betiol e foi residir/ em Ermo/SC, onde nasceram os filhos Demir
Bettiol, Valdir de Luca, Altair Maria Bettiol e Valdenice Bettiol.
MADALENA- Sexta Geração, casou-se José Raimundo de
Oliveira e foi residir em Itajai, onde nasceram os filhos Moacir Inácio de
Oliveira e Roberto de Oliveira.
ALBINA - Sexta Geração, casou-se com Djalma Scaravaco, e foi
residir em Içara/SC, onde nasceram os filhos Arnaldo Scaravaco, Ana Scaravaco,
Arlete Scaravaco, Dalva Scaravaco, Arnoldo Scaravaco, Aurea Celia
Scaravaco, Dalciria Escaravaco, Maria Dalmira Escaravaco e Janio
Escaravaco.
IOLANDA - Sexta Geração, casou-se com Airton de Araujo em
Urussanga, onde residiram até seus falecimentos. Tiveram apenas um filho:
Arilton de Araujo.
Orlando e Ijani Rosso Cadorin |
AMERICO
CADORIN - Sexta Geração, nasceu em
Rio Salto, Urussanga e ainda muito jovem foi trabalhar na
construção e abertura da estrada da Serra da Rocinha, nas proximidades de
Turvo/SC. Sob a supervisão de engenheiro, foi contratado para
construir em Caxias do Sul um complexo de três barragens com sistemas de
abastecimento e saneamento de água, o que fez também nas cidades de Santana do
Livramento e Irai, ambas no Rio Grande do Sul. Em Irai casou-se com Adelina
Dazzi, onde nasceram os filhos Adérico Cadorin (11/10/1933), Arcério
Cadorin (02/06/1937) e Aldira Cadorin (20/05/1941).
Posteriormente, após o
falecimento de sua mãe, chamado pelo pai, voltou a residir em Urussanga onde em
03/06/1948 nasceu o filho mais novo Adilcio Cadorin, autor deste texto.
Associou-se com seu pai e mais tarde com seu irmão Orlando na produção de
vinhos e na produção de ferramentas. Em virtude de ter ficado sem matéria prima
para produção de vinhos, em 1961 mudou-se para S. Marcos/SC, próximo a Caxias
do Sul, onde construiu nova cantina de vinhos, que denominou de Vinhos Lorenzo.
Em final de 1964 mudou-se para Caxias do Sul, onde veio a falecer em
12/05/1970, com 62 anos de idade, vítima de tumor cerebral.
Américo e Adelina Dazzi | Cadorin |
Américo Cadorin Prefeito | de Urussanga |
Lamentavelmente, faleceram todos os integrantes da Sexta Geração, mas geraram filhos, netos, bisnetos e tataranetos, que atualmente compõem um total de Dez Gerações que temos registrado nos arquivos da genealogia de nossa família. Os descendentes do imigrante Giovanni Battista Cadorin, se dispersaram por diversas cidades brasileiras, com maior concentração nos estados de Santa Catarina, Rio Grande do Sul, do Paraná, sendo nas cidades do sul catarinense que estão mais concentrados. Seus descendentes exercem hoje as mais diversas atividades, destacando-se como industriais, comerciantes, funcionários públicos, professores, músicos, comunicadores, profissionais liberais e políticos, dentre estes destaques para Américo Cadorin, que foi prefeito e Urussanga/SC (1955/1960); Adérico Cadorin que foi vereador em Caxias do Sul/SC (1972/1975); Adilcio Cadorin que foi vereador em Caxias (1976/1982) e prefeito em Laguna/SC (2001/2004); Orladi Cadorin que foi vereador em Urussanga/SC (1993/1996) e Aldoir Cadorin que foi vereador reeleito em Ermo/SC (2005/2012) e se reelegeu Prefeito (2012/2020).
*Advogado,
membro do IHGSC, natural de Urussanga, residente em Laguna/SC